Como em praticamente todos os demais setores da economia, a produção audiovisual brasileira é exageradamente concentrada no eixo Rio-SP e nas regiões Sudeste e Sul. Assim, um evento com a proposta do Tela (Tecnologia, Entretenimento, Linguagem e Audiovisual) é de extrema necessidade. O encontro de mercado do Cine PE oferece a players da mais alta categoria a chance de entrar em contato com projetos de filmes e séries desenvolvidas por realizadores do CONNE (Centro-Oeste, Norte e Nordeste).
Pelo segundo ano, participo da seleção das propostas que formam o cardápio do Tela. Para essa missão, tenho o privilégio de contar com a parceria de Carissa Vieira. O objetivo no ano passado era impressionar os players com novidades, o que foi alcançado. Para 2024, a meta era concretizar mais alianças entre produtores e players. Por isso, fiz um discurso antes das apresentações (pitchings) no Tela 2024 para motivar as negociaões. Minha fala foi registrada quase em sua totalidade em vídeo.
As pessoas que frequentaram o evento são conscientes das razões porque quase todos os players serem empresas sudestinas. Muitos sabem que não é coincidência que essas companhias foram quase todas representadas por pessoas brancas. Afinal, um dos maiores desafios do cinema brasileiro é que ele ocorre no Brasil. Assim, não é coincidência que, dos projetos do ano passado, aquele que teve mais apoio e interesse foi uma coprodução entre Ceará e Rio de Janeiro, encabeçada por um sobrenome que é sinônimo de cinema brasileiro há mais de 60 anos. Fico feliz em fazer parte da jornada desse projeto da concepção até o olhar do espectador, mas também o mesmo destino para outras propostas, de outros locais. Essa repetição de padrões não me pareceu ser um fator de incômodo tão grande nos players. Pra mim, é um sinal de que ainda temos muito a avançar.
Na real, eu sei muito bem que os representantes das empresas têm uma autonomia limitada para resolver essa questão, com muitos degraus entre eles e a cobertura do edifício. Com isso em mente, quero complementar minha mensagem inicial de maneira mais leve.
De operário para operário, peço aos representantes dos players que defendam com veemência os projetos apresentados no Tela 2024. Imagino que muito deles terão de fazer algum tipo de relatório aos seus superiores agora, na semana logo depois do evento. Não tenham medo de apostar nessa galera valente, criativa e cheia de vontade de ajeitar as engrenagens altamente viciadas desse meio. Portanto, abram o peito para as novas ideias que desfilaram no palco do Tela.
Para finalizar esse texto, trago uma referência inescapável para entender o Brasil. Assim, eu, um sudestino, citarei um autor sudestino para os ouvidos sudestinos dos players (e aos sulistas também, claro), na esperança de encontrar espaço em vossos corações. “O correr da vida embrulha tudo, a vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem.”