Acerto de contas

Diego Edu
3 min readJun 26, 2023

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Perto do meu aniversário, na virada de abril para maio, fiz um monte de peças de madeira. Tinha esperança de que na celebração das minhas quarenta primaveras iria conseguir vender uns caixotes, nichos para pets, sapateiras, mesas de centro, etc. Vendi apenas uma casinha. O resultado me entristeceu um tanto e deixei de lado esse novo hobbie, para alegria das minhas mãos feridas por lixa, marteladas e farpas.

O que não deu para deixar de lado nesse tempo foram os boletos. Por isso, aceitei ir para o Rio Grande do Sul em meados de junho para ajudar a montar fachadas de agências bancárias. Como eu queria poder ter recusado esse trabalho! Ele me custou uma cobertura pífia do In-Edit 2023, entre outras coisas. De volta para casa, resolvi produzir mais uma peça de madeira, dessa vez fazer uma peça que eu não quero vender, o que afasta a frustração de uns meses atrás. Fiz um troféu com as luvas que usei nas obras.

No entanto, o que mais me fez querer não ter ido na tal viagem é o fato de que meu currículo está muito longe de ser assistente de obra. Até o começo do ano passado, ganhava relativamente bem com os roteiros de materiais digitais didáticos (vídeos, games, podcasts…). Com a mudança de vida que adotei, não tinha a inocência de achar que isso permanecia igual, mas não suspeitei que todas as pontes seriam explodidas, mesmo que eu não tivesse um detonador nas minhas mãos.

Nessa época, além dos materiais digitais, fiz outros trabalhos que ficaram invisíveis. Não estou falando da invisibilidade do trabalho doméstico (a qual também senti na pele), mas de serviços que prestei me fingindo ser outra pessoa. Assim, muita gente do mercado não sabe que sou capaz de escrever projetos integradores, materiais para Manual do Professor, criação de seções de livros didáticos,…

Depois de muitas portas fechadas nas editoras de livros didáticos, voltei para o mundo do cinema, dessa vez oferecendo mais aulas, palestras, oficinas e mediação de debates em festivais de cinema. Tenho entrado em contato com vários produtores e tentando organizar uma agenda de trabalhos bem intensa para o segundo semestre, quando esse tipo de evento acontece bastante.

Até lá, preciso de fundos e cogito vender meu carro. Para além da oferta do golzinho comunista 2014, tenho algumas dicas para quem chegou até aqui e queira dar uma força. A primeira forma de apoio é gratuita. Pensa aí se não tem algum freela de escrita, revisão ou tradução para o qual eu não possa ser indicado. Aí gasta cinco minutinhos pra fazer essa ponte.

As próximas formas já envolvem colocar a mão no bolso. Vamos a elas. Como sabem, tenho um monte de peças de madeira por aqui que não vendi. E também tenho bastante madeira que pode ser usada para produção de peças personalizadas. Os caixotes mais baratos custam R$100. Eu sei que a primeira reação de alguns é achar isso muito caro, mas não vou levar essa reposta muito a sério se a pessoa gasta esse valor sem pestanejar em poucas viagens de Uber (aquelas que poderiam ser viagens de metrô de menos de R$5, mas que você ficou com preguiça).

A terceira forma de ajudar é encomendar uns pães recheados comigo. Eu produzo nos sabores pizza de calabresa (massa tradicional e de cacau), ricota com salsinha (massa tradicional ou de cenoura) e outras opções sazonais. Eles custam R$50 e também tem gente que acha caro. Mas eu sei que na padaria aqui do lado eles custam R$30 e os meus são pelo menos duas vezes mais gostosos.

Para finalizar em um tom mais positivo, quero agradecer quem me deu muita ajuda nesse tempo todo. Eles sabem muito bem quem são. Se não fossem essas pessoas, não sei o que seriam das minhas finanças depois de um ano desafiador que trouxe a complicação extra do pagamento de uma indenização de cinco dígitos no final do ano passado. Valeu, meus amores!

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Diego Edu

Eclético demais, conheço um pouco de muita coisa e muita coisa de quase nada. Escrevo como quem conversa no bar.