Depois de uma sucessão de momentos de ansiedade (reunião de curadores, anúncio de seleção de outros festivais, negociação com realizadores, recepção da nossa programação, entrevistas, adiamento do festival), finalmente rolou o Cine PE 2018. Passada a enxurrada de emoções, dá para fazer um balanço extremamente positivo.
Nosso trabalho (meu, do bravo Danilo Calazans e da generosa Edina Fujii) foi elogiado por diversos setores: direção do festival (obrigado pela confiança, Sandra Bertini), equipe de apoio (muitos nomes, mas el@s sabem a quem me refiro), realizadores e críticos. Curiosamente, o público é o principal e ao mesmo tempo aquele com quem temos menos meios de aferição. A gratuidade no ingresso certamente ajudou a lotar o Cine São Luiz, mas a atmosfera que reinava ali indica que, depois de adentrar a sala, o espectador aprovou a maioria dos filmes.
Como disse durante o festival, eu não tinha noção do alcance do trabalho de curadoria em um evento do tamanho e história do Cine PE. Portanto, a ignorância aí do título é toda minha! Se soubesse, a ansiedade seria maior, quase insuportável. Felizmente essa falta de noção possibilitou a tomada de decisões sem tanto peso, um trabalho mais tranquilo e com menos inseguranças.
A primeira dessas descobertas se deu no cinema em si. Na tela grande, com som potente, as qualidades e defeitos dos filmes ficam mais evidentes. Assim, nossas escolhas ganham cores mais fortes quando projetadas naquele templo de cinema.
Ainda ali, há a repercussão na plateia. O júri foi composto de profissionais de larga experiência em cinema e audiovisual, e eles avaliaram nossa seleção. Os homenageados Cássia Kiss, Katia Mesel e Rodrigo Santoro também acompanharam ao menos parte da programação. Por uma falha na comunicação, não tivemos júri da Associação Brasileira de Críticos de Cinema — Abraccine nesse ano, mas isso não quer dizer quer não tínhamos no festival críticos de peso, inclusive Paulo Henrique Silva, presidente da associação. Alguns jornalistas e críticos me deram retornos honestos, como é de se esperar, que ajudarão no meu futuro.
As repercussões vão além da sessão de cinema. Profissionais de televisão estavam por lá para captar talentos, canais de TV a cabo demonstraram interesse nos direitos de exibição dos filmes que pescamos entre aquelas cinco centenas de inscritos (número que espero ser superado para o Cine PE 2019). Realizadores se conheceram, trocaram ideias (não só nos debates, que foram muito enriquecedores para mim) e talvez desse encontro nasçam projetos bonitos para a gente ver.
Fora da esfera profissional também há consequências a serem observadas e saboreadas. Rafael Terpins, diretor do documentário Meu Tio e o Joelho de Porco, partilhou comigo o vídeo com as reações de sua esposa e filhas diante do computador assistindo à apresentação dele no palco, ao vivo pela internet. Testemunhar um momento de comunhão familiar foi muito recompensador.
E em 2019? Há uma vontade mútua de repetir a dose. Até lá, vamos avaliar maneiras de melhorar, o que ajustar, o que manter, etc. Também será preciso trabalhar com mais atenção a aproximação junto à Abraccine, para evitar os desencontros de 2018. Continuar o dia a dia de vigiar o que se faz de cinema nesse país, construir pontes (principalmente com os realizadores pernambucanos) e pavimentar o caminho para um Cine PE ainda melhor. Porque tenho certeza absoluta que nessa ano conseguimos entregar um festival muito especial.