A ignorância é uma bênção

Diego Edu
3 min readJun 4, 2024

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Foto: Felipe Souto Maior

Depois de uma sucessão de momentos de ansiedade (reunião de curadores, anúncio de seleção de outros festivais, negociação com realizadores, recepção da nossa programação, entrevistas, adiamento do festival), finalmente rolou o Cine PE 2018. Passada a enxurrada de emoções, dá para fazer um balanço extremamente positivo.

Nosso trabalho (meu, do bravo Danilo Calazans e da generosa Edina Fujii) foi elogiado por diversos setores: direção do festival (obrigado pela confiança, Sandra Bertini), equipe de apoio (muitos nomes, mas el@s sabem a quem me refiro), realizadores e críticos. Curiosamente, o público é o principal e ao mesmo tempo aquele com quem temos menos meios de aferição. A gratuidade no ingresso certamente ajudou a lotar o Cine São Luiz, mas a atmosfera que reinava ali indica que, depois de adentrar a sala, o espectador aprovou a maioria dos filmes.

Como disse durante o festival, eu não tinha noção do alcance do trabalho de curadoria em um evento do tamanho e história do Cine PE. Portanto, a ignorância aí do título é toda minha! Se soubesse, a ansiedade seria maior, quase insuportável. Felizmente essa falta de noção possibilitou a tomada de decisões sem tanto peso, um trabalho mais tranquilo e com menos inseguranças.

A primeira dessas descobertas se deu no cinema em si. Na tela grande, com som potente, as qualidades e defeitos dos filmes ficam mais evidentes. Assim, nossas escolhas ganham cores mais fortes quando projetadas naquele templo de cinema.

Ainda ali, há a repercussão na plateia. O júri foi composto de profissionais de larga experiência em cinema e audiovisual, e eles avaliaram nossa seleção. Os homenageados Cássia Kiss, Katia Mesel e Rodrigo Santoro também acompanharam ao menos parte da programação. Por uma falha na comunicação, não tivemos júri da Associação Brasileira de Críticos de Cinema — Abraccine nesse ano, mas isso não quer dizer quer não tínhamos no festival críticos de peso, inclusive Paulo Henrique Silva, presidente da associação. Alguns jornalistas e críticos me deram retornos honestos, como é de se esperar, que ajudarão no meu futuro.

As repercussões vão além da sessão de cinema. Profissionais de televisão estavam por lá para captar talentos, canais de TV a cabo demonstraram interesse nos direitos de exibição dos filmes que pescamos entre aquelas cinco centenas de inscritos (número que espero ser superado para o Cine PE 2019). Realizadores se conheceram, trocaram ideias (não só nos debates, que foram muito enriquecedores para mim) e talvez desse encontro nasçam projetos bonitos para a gente ver.

Fora da esfera profissional também há consequências a serem observadas e saboreadas. Rafael Terpins, diretor do documentário Meu Tio e o Joelho de Porco, partilhou comigo o vídeo com as reações de sua esposa e filhas diante do computador assistindo à apresentação dele no palco, ao vivo pela internet. Testemunhar um momento de comunhão familiar foi muito recompensador.

E em 2019? Há uma vontade mútua de repetir a dose. Até lá, vamos avaliar maneiras de melhorar, o que ajustar, o que manter, etc. Também será preciso trabalhar com mais atenção a aproximação junto à Abraccine, para evitar os desencontros de 2018. Continuar o dia a dia de vigiar o que se faz de cinema nesse país, construir pontes (principalmente com os realizadores pernambucanos) e pavimentar o caminho para um Cine PE ainda melhor. Porque tenho certeza absoluta que nessa ano conseguimos entregar um festival muito especial.

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Diego Edu

Eclético demais, conheço um pouco de muita coisa e muita coisa de quase nada. Escrevo como quem conversa no bar.